O penúltimo dia de nossa estada no Uruguai estava frio e bastante ventoso, o que mudou um pouco os planos em relação a locomoção. Trocamos a bicicleta (meio mais usado em Carmelo) por uma caminhada – a qual foi de pouco mais de 4 km, distância necessária para queimar algumas colorias acumuladas.
Vestimos toda a roupa das malas e atravessamos a pequena cidade em direção à área rural, onde as casas dão lugar ao campo, rebanho de gado e ovelha, plantações e vinhedos, no cenário que acolhe a principal atividade econômica local, a agropecuária.







Justamente neste seguimento que o proprietário da vinícola, a qual rumávamos para visita, desenvolveu seus negócios – inciando pela soja e limão siciliano. Mas, foi no cultivo da uva e elaboração de vinho que Bernardo Marzuca deu continuidade a um sonho de família, do qual fez sua missão.
El Legado
A vinícola El Legado foi fundada em 2007 e lançou sua primeira safra de vinho em 2011, como a concretização por Bernardo do que era uma aspiração de seu pai. Esta história é mencionada no Facebook da vinícola:
“Muitos anos atrás, meu pai, Luis Marzuca e seu irmão Raúl, compraram essas terras e plantaram vinhas, para então estabelecer uma vinícola.
Estas vinhas permaneceram na família, até onde me lembro.
Hoje voltei a esse projeto.
Não por causa da tradição familiar dos vinicultores, ou por causa de uma longa história, mas porque eu gosto, sou apaixonado e acima de tudo me comove.
O bom vinho hoje faz parte do modo de vida da minha família.
Dedicamos o melhor para fazer o melhor.
Sentimo-nos orgulhosos de conseguir o que queremos, um lugar bonito e um excelente vinho.”
Assim iniciou nossa visita, com um dos filhos de Bernardo nos recepcionando na sala principal, para logo termos o próprio Bernardo para nos guiar pelos pequenos vinhedos e vinícola.
Os vinhedos de El Legado são uma referência no Uruguai, pois alguns deles são os únicos a serem conduzidos no que é chamado em espanhol como Sistema de Cordón Vertical, o qual a vinha cresce como uma árvore sustentada.
Há também vinhedo de tannat com sistema de condução espaldeira, mas o resultado dos frutos que crescem neste sistema único no país é bem mais interessante – nos comentou o senhor Marzuca.






Seguimos a sequência do fluxograma de elaboração e visitamos a vinícola. Ali também há inovação.
Todos os equipamentos necessários para a produção em pequena escala (são aproximadamente 15000 garrafas ao total) estão distribuídos em uma edificação com muitas aberturas, o que se parece a um quiosque, e que facilita a circulação de ar e refresca o local.

Descemos à cave, na qual a temperatura é natural e constante, sempre ao redor de 18°C – bem mais agradável que a externa naquele dia.
Ali ficam as barricas por onde passam todos os vinhos da vinícola e onde estão algumas garrafas de recordação de vinhos amigos.
Outro local que visitamos foi a sala de rotulagem, onde também encontramos um dos filhos realizando o processo e dando continuidade a El Legado.

Na sala de degustação o sol nos esperava por entre as janelas.
Já confortáveis à mesa, nos foi servida uma tábua de queijos, frios e azeitona como acompanhamento para a degustação dos três vinhos da casa – tudo a um preço de USD 25,00 por visitante.


O primeiro vinho degustado também é uma referência nacional, Syrah Reserva, por ser um dos poucos da casta e por já ter sua qualidade por muitos reconhecida. Ele faz jus a fama, a safra 2017 apresentada está elegante e equilibrada. É um ótimo vinho.



Seguimos com aquele que mais me surpreendeu, Tannat Reserva 2017, o qual tinha similar elegância e equilíbrio, mas com muita expressão de fruta e um excelente final.
Este tannat passa 12 meses por barrica de carvalho, o qual em nada se sobrepõe às outras belezas do vinho. Pelo conjunto da obra paguei USD 17,00 e fiz espaço na mala para uma garrafa dele.



O último vinho, um corte das duas variedades, foi extraído diretamente do barril com uma pipeta em sala antiga anexa – em uma atividade que é obrigatória para qualquer visitante da vinícola e muito divertida.





Este vinho também está a venda em garrafa, Blend Tannat-Syrah Gran Reserva 2015.
Já atrasados para nossa próxima visita, nos despedimos da família Marzuca, pai e filhos, que se dedicam, trabalham e que são a verdadeira expressão do nome escolhido: El Legado.

No próximo relato conto o encontro com aquele que é o enólogo da El Legado, não muito distante dali.
Até à próxima!
¡Salud!
Marcia Amaral
Um comentário em “Recuerdos de Uruguay – Relatos da Viagem (parte 4)”